Patogenia (Tuberculose)
A TB representa o paradigma da doença transmitida por via aérea, forma de transmissão respiratória que não exige o contacto próximo entre o doente em fase contagiosa e o hospedeiro susceptível. O MT atinge com facilidade o alvéolo pulmonar, onde é fagocitado pelos macrófagos locais, conseguindo, no entanto, sobreviver no meio ácido dos lisossomas, e passando, eventualmente, para a corrente sanguínea e linfática. Nesta fase precoce, os bacilos podem circular e instalar-se em qualquer local do organismo do hospedeiro, embora o pulmão seja, também por proximidade, a localização mais frequente, com a formação de focos locais com reacção inflamatória mais ou menos intensa (focos de Simon). A resposta imunitária é do tipo retardado, com participação importante da componente celular, traduzindo-se, sobretudo, pela formação de granulomas epitelioides característicos da TB. Embora a taxa de indivíduos infectados por MT seja elevada, sendo estimada em mais de 1/4 da população mundial, apenas cerca de 10% de indivíduos com infecção latente (TB latente) virá a desenvolver doença activa, e cerca de metade destes fá-lo-á nos 2 a 3 anos após o momento da infecção. Estes casos constituem a chamada TB primária. Nos outros 5%, a doença manifesta-se mais tarde, mediante condições apropriadas para a reactivação dos bacilos presentes nos focos granulomatosos constituídos inicialmente, constituindo a TB de reactivação. A participação do sistema imunitário celular, particularmente dos linfócitos T e dos macrófagos, cuja diferenciação é fundamental para a constituição estrutural do granuloma tuberculoso, correlaciona-se com a frequência com que a TB ocorre no contexto da infecção por VIH, bem como com as formas de apresentação particulares que a TB assume nesta população: formas mais frequentemente disseminadas, consideradas não reactivas pela reduzida expressão da resposta granulomatosa. A importância deste facto é atestada pela taxa de reactivação da TB que, no contexto da infecção por VIH, pode atingir os 7%/ano e, virtualmente, 100% durante a vida dos doentes.