Sob circulação extracorporal em hipotermia ligeira ou moderada, com uma cânula venosa única e com o coração parado, sob protecção cardioplégica, a válvula aórtica com estenose pode, nalguns casos, ser reparada por comissurotomia, descalcificação de folhetos e outros procedimentos plásticos, mas a reprodutibilidade e duração destes procedimentos não se acha ainda estabelecida. Na maior parte dos casos, a reparação não é possível, sendo então necessário proceder à substituição da válvula por uma prótese, a qual poderá ser mecânica ou biológica. Dentro destas pode utilizar-se um homoenxerto (válvula aórtica de cadáver) ou um heteroenxerto (válvula porcina ou de pericárdio bovino) montada ou não numa estrutura rígida (com ou sem stent).
Em crianças e numa população selecionada de adultos jovens, pode considerar-se a utilização do autoenxerto pulmonar – operação de Ross – em que a válvula aórtica é substituída pela válvula pulmonar do doente, sendo colocado no lugar desta um homoenxerto.
Em mulheres em idade fértil, em jovens e em insuficientes renais, o metabolismo acelerado do cálcio não aconselha a utilização de próteses biológicas tratadas pelo gluteraldeído, pelo que o homoenxerto aórtico deverá ser utilizado. Também o baixo nível de propagação de infeção aos homoenxertos implantados aconselha o seu uso na endocardite valvular aórtica.
As dimensões do anel aórtico condicionam o diâmetro da prótese a implantar e este condiciona naturalmente o gradiente residual. Próteses mecânicas inferiores a 21-23 mm de diâmetro, conforme a sua superfície corporal, são inaceitáveis em indivíduos jovens ativos. Próteses biológicas, sobretudo montadas em stents, determinam gradientes ainda mais elevados e não devem em caso algum ser utilizadas em diâmetros inferiores a 21 mm. O anel aórtico pode assim ter de ser alargado para permitir a implantação de uma prótese de diâmetro aceitável ou, dado que os homoenxertos aórticos e as próteses biológicas não montadas em stents apresentam gradientes muito baixos, poderão constituir escolhas preferenciais, se em presença de um anel aórtico estreito.
Nota: A associação de estenose aórtica moderada (gradiente <50 mmHg) e doença coronária é comum e, neste caso, a válvula aórtica deverá ser substituída, dada a conhecida tenndência destes gradientes para aumentar poucos anos após a cirurgia coronária. Mesmo com gradientes próximos dos 30 mmHg, nos casos em que, por ecocardiografia, a válvula aórtica se apresentar muito calcificada, deverá ser feita a substituição no momento da cirurgia coronária, pois nestes casos a progressão para estenose aórtica grave é usualmente rápida e implica reoperações com risco que não é negligenciável.