Terapêutica (Insuficiência Hepática Aguda) – II
Na intoxicação pelo paracetamol que pode suceder com doses terapêuticas de 3 a 4 gramas por dia em dias seguidos, a administração de N-acetilcisteína pode ser útil (dose de carga: 140 mg/kg seguida de 70 mg/kg oral ou e.v., de 4 em 4 horas durante 68 horas num total de 17 doses). Se a ingestão do paracetamol for recente (3 a 4 horas antes) e em doses altas, a N-acetilcisteína deve ser precedida pela administração de carvão activado W.
Nas hepatites virais, se o vírus da hepatite B for a causa da insuficiência hepática aguda podem-se prescrever os análogos dos nucleótidos. Nos casos raros de hepatite a herpes, deve-se iniciar aciclovir e.v.
Quando a insuficiência hepática aguda é devida à hepatite auto-imune podem ser administrados imunossupressores embora por vezes sem eficácia e, como tal, a decisão do transplante hepático deve estar sempre presente.
A doença de Wilson, sob a forma aguda, não é reversível com terapêutica quelante; o doente deve ser estabilizado com hidratação e.v. e plasmaferese.
Na intoxicação recente por Amanita Phalloides, para além da lavagem gástrica, hidratação e.v. e diurese forçada, devem-se administrar doses repetidas de carvão activado para evitar a reabsorção intestinal das amatoxinas; com o objectivo de reduzir a sua concentração na bílis e impedir que entrem na circulação entero-hepática recomenda-se a administração de penicilina G (2 milhões de unidades e.v./hora) e silimarina (5 mg//kg em bolus e.v. seguidos de 20 mg/kg/hora em perfusão contínua).
O transplante hepático deve ser considerado em todo o doente com insuficiência hepática aguda que preencha os critérios de lesão hepática progressiva e grave de evolução fatal.
O contacto com uma UCI e um centro de transplante hepático para o qual o doente deve ser transferido é indispensável. Quanto mais cedo for referenciado, melhores serão os resultados.
O acesso a sistemas de suporte bioartificial, de diálise extracorporal tais como o MARS (molecular adsorbent recirculating system) e o PROMETHEUS (fractionated plasma separation adsorption and dialysis) pode levar à melhoria das funções hepática, cardiovascular e renal, permitindo por vezes que o fígado recupere sem necessitar de transplante.